quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Clube - Fundação, História e Dedicação!

Quem mais poderia promover a raça se não a união dos criadores? Quem mais poderia promover a raça se não a própria raça, sem misturas, cada vez mais próxima ao padrão desejado? Quem mais poderia promover a raça se não nós, do Clube do Fox Paulistinha?

Não havia outro caminho a não ser a fundação do clube especializado, registrado no 4º Cartório de Títulos e Documentos da Capital sob número 050603, em 16 de dezembro de 1981. A fundação do Clube foi no dia 19 de agosto de 1981 e a existência legal, na data de seu registro em Cartório.

Membros do Clube do Fox Paulistinha trabalharam por muitos anos para restaurar a raça, através da educação do público, publicidade e shows, zelando pelo aprimoramento do padrão e buscando, na formação do plantel, a homogeneidade que hoje encontramos.

Foi um árduo trabalho! A entidade cinófila oficial brasileira não dava apoio aos sócios do novo clube que havia se formado. O que resolveram esses sócios? Estudar o padrão, que foi elaborado, primeiramente, no final da década de 60 pelo veterinário Waldemar Rathsan, um padrão duro e exigente em relação ao plantel existente.

De tão bom ficou o trabalho com a raça, de tão bem construído e estruturado ficou o animal, que em 1987 a Sra. Marina Vicari Lerario foi procurada por um representante do Kennel Clube Paulista, um dos principais do Brasil, para preparar e apresentar um dossiê que seria encaminhado à CBKC (Confederação Brasileira de Cinofilia), a nova entidade mater brasileira, no intuito de, na reunião anual dos filiados (todas as Federações Cinológicas dos Estados Brasileiros) tentar novamente o reconhecimento da raça no Brasil.

A Sra. Marina preparou um dos melhores dossiês sobre a raça, juntou fotos oriundas de várias procedências, algumas históricas até, em branco e preto, do início do Século XX, e entregou àquela pessoa que iria “nos defender”.
O que de bom aconteceu foi que a raça novamente foi reconhecida pela CBKC, obtendo um registro provisório. Então, os interessados filiados à CBKC deveriam “começar” um trabalho com a raça, quando já existia desde 1981 o bem elaborado trabalho do Clube do Fox Paulistinha (CFP).

Não fosse a famosa persistência e trabalho dos paulistas, a raça teria “morrido” nesta ocasião. O CFP, em Assembléia Geral Extraordinária, convocou seus associados, expôs os fatos e resolveram através de voto unânime, que continuaríamos com nosso trabalho de seleção e emitindo nossos próprios pedigrees, como já o fazíamos desde a fundação do Clube. Nós não registraríamos nossos cães no sistema CBKC. O que fazíamos era um controle genealógico sempre visando o aprimoramento da raça, mesmo sem ter caráter oficial, o que nos importava era o banco genético, que só poderia ser controlado pelo pedigree. Seria muito fácil mudar o padrão para adequar ao plantel existente. Mas não! Se existia um padrão, o cão é que teria que chegar a ele. Foi o que conseguimos em mais uns 03 ou 04 anos de trabalho!

O Registro Inicial (RI) do CFP era bastante severo, seletivo e criterioso. O que era um RI, em sua essência? É saber analisar o exemplar em sua estrutura e dinâmica e poder dizer se aquele cão pertence à raça. O CFP formou então os primeiros juízes especializados da raça: Marcos Hotz, Andrea Guedes Moreira, Caio Lemmi, Vito Julio Lerario, Marina Vicari Lerario. Podemos considerar aqui mais uma etapa da origem da raça. Foi esse Clube e esses juízes que selecionavam o plantel de “Fox Paulistinha” que existia. Foi com o discernimento desses juízes e do regulamento do RI do CFP que foram registrados os melhores cães na ocasião. Além de uma quantidade razoável, precisávamos também de qualidade. Cães selecionados para um Stud Book a perpetuar a raça.

Nosso Registro Inicial nunca foi feito em um animal que não tivesse o mínimo de 12 meses de idade. Como poder verificar a altura, a mordedura, testículos, conformidade, sem este mínimo de idade? Seria impossível! Sabem por quê? Porque muitos nos telefonavam (o CFP anunciava no jornal à procura desses foxs) informando que tinham um verdadeiro “Paulistinha” e quando passavam pela análise, podiam bem ser confundidos com pointers, dálmatas, pinschers, bassets, beagles. Qualquer coisa que fosse “pintadinha” de branco e preto, achavam que poderia ser um Fox Paulistinha! E o nosso RI sempre foi feito por três juízes da raça.

Naquele momento (1987) a CBKC começou a registrar os Fox Paulistinha, agora chamados de Terriers Brasileiros no livro de registro secundário. E o Clube do Fox Paulistinha deu prosseguimento ao trabalho que já vinha desenvolvendo, mantendo seu Stud Book.

O Clube continuou a fazer o que sempre fez: trabalho, trabalho e mais trabalho. Tínhamos na ocasião mais de 200 sócios, mais de 2500 animais registrados. O Brasil todo registrava ninhadas conosco! Naquele momento ninguém estava preocupado com outra coisa a não ser melhorar o plantel existente. Coisa que não estava acontecendo com os registros efetuados nos Kenneis Clubes oficiais. Começou a existir um estigma: cães que tinham pedigree do Clube do Fox Paulistinha são bem elaborados, são selecionados, são bonitos. Cães desta raça com registro avaliado pelos Kenneis não o são.

O que valia mesmo para os admiradores do Terrier Brasileiro era o pedigree selecionado emitido pelo Clube do Fox Paulistinha, patrono da raça Terrier Brasileiro. Se não fosse isso, a raça não existiria, não teria sido reconhecida pela FCI. O intercâmbio entre criadores de Norte a Sul do Brasil era grande e foi com essa “invasão pacífica” que conseguimos nos fixar em quase todos os Estados brasileiros. Nos estatutos do CFP está previsto a formação de núcleos, uma espécie de “posto avançado” do CFP, que trabalha em caráter nacional. Fundaram-se assim núcleos nas capitais dos Estados do Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão, Brasília e Rio Grande do Sul. A extensão territorial brasileira é muito grande, seria difícil controlar essa seleção de RI, centralizando tudo em São Paulo. Mas como poderiam os juízes especializados viajarem milhares de quilômetros, horas dentro de um avião, dias dentro de um automóvel, para uma verificação de ninhada? Para avaliar um RI? Era impossível, por isso queríamos o convênio com a CBKC, para nos utilizar dos kenneis clubes espalhados pelo País e podermos ditar nossas regras, rigorosas e honestas. Começamos a fazer RI´s através de registro fotográfico, os mais variados ângulos, quando possível, através de vídeos que os proprietários faziam, além de minucioso relato de veterinário, confirmando saúde e negatividade para as faltas desqualificantes da raça. Mesmo não sendo o ideal, foi assim que “reconstruímos” a raça, que cadastramos o plantel existente, que demos prosseguimento ao nosso ideal: o de nunca mais deixar “morrer” este brasileirinho.

Muitos se tornaram criadores. Era obrigação do CFP auxiliar esses novos adeptos. Mesmo sem estar reconhecido pela CBKC/FCI, graças a vários artigos que enviávamos e que foram publicados em revistas espanholas, italianas, israelenses, finlandesas, sul-americanas, japonesas e outras começou a exportação. A única revista cinófila brasileira da época: “Cães&Cia.”, publicou o primeiro artigo sobre a raça, em Fevereiro de 1981, antes mesmo da formação do Clube. Até hoje esta revista publica artigos sobre a raça, nunca deixando de consultar o CFP. Os artigos marcam também a trajetória da raça. Surgiram outras revistas dedicadas a cães e animais de estimação no Brasil, que também nos ajudaram a promover a raça dentro de seu próprio país de origem. Finalmente havíamos quebrado mais essa barreira.

Em 1992, a Sra. Dóris Vidigal, escreveu um brilhante artigo sobre a raça na revista DOG World (maio/1992) e nos “apresentou” aos EUA, e ao mundo, que começou a se interessar pela raça e alguns exemplares foram para lá exportados. Esse artigo “Brazilian Terrier – Back From the Brink” foi indicado pela Dog Writers Association of America (DWAA) a concorrer à premiação. O Clube do Fox Paulistinha, neste momento histórico para a raça, compareceu, em Fevereiro de 1993, ao evento. Tivemos nossos “quinze minutos de fama” ao sermos apresentados a todos os presentes como “os brasileiros que estavam salvando o Terrier Brasileiro da extinção” e nos deram o uso da palavra, que em público foi de agradecimento por aquela oportunidade. A platéia muito nos aplaudiu, pareciam comovidos com tal fato. A Sra. Dóris Vidigal recebeu a medalha Maxuell pelo artigo.

A primeira entidade a reconhecer nossa raça internacionalmente foi uma entidade norte-americana, de raças raras (American Rare Breed Association - ARBA). O primeiro exemplar Terrier Brasileiro a participar de uma exposição promovida pela ARBA foi a “Yasmin do Taboão”, que obteve classificação “excelente”, e quarto lugar no grupo.

Em 1990/1991 houve uma cisão no panorama político da cinofilia brasileira. Fundou-se outra entidade que não foi reconhecida pela FCI. A então CBKC, naquele momento contando com minguados kenneis clubes associados, procurou o Clube do Fox Paulistinha para fazermos o tão almejado contrato/convênio. Foi o Clube do Fox Paulistinha quem forneceu à CBKC o padrão oficial da raça, adotado doravante oficialmente em todo o Brasil e pela FCI. Essa união tornava viável tentar o reconhecimento internacional.

Na ocasião, surgiu um excelente artigo sintetizando todo o problema político, na revista “Bichos de Estimação”, em uma edição especial às raças brasileiras. No que nos diz respeito transcrevemos as palavras do Sr. Renato Tarquínio Bittencourt, autor do artigo “Algumas Observações Trágicas Sobre as Raças Nacionais”:

Já no Terrier Brasileiro a situação foi mais difícil: não fosse a estóica pertinácia do Clube do Fox Paulistinha, certamente a situação da raça hoje seria outra. Ignorada ou perseguida pelo sistema CBKC durante muitos anos, essa raça chegou a sofrer a humilhação de ter cassados todos os títulos de seus Campeões e ver excluídos do Stud Book todos os seus exemplares. Aquele mesmo dirigente da CBKC baixou um verdadeiro AI-5* cinófilo contra essa segunda raça brasileira, mas nem assim conseguiu seu extermínio. Hoje, com a cisão política resultante da dissidência da ala ACB, parece que estende os braços para o Clube do Fox Paulistinha em busca de apoio político e em troca poderá até tentar algum dia o reconhecimento FCI dessa segunda raça, invertendo a posição que sempre adotou. Ainda há esperanças para o Terrier Brasileiro – Fox Paulistinha, graças a seus teimosos criadores e com todo mérito a seus pertinazes guardiães”.

* AI-5 = ato de caráter ditatorial que ocorreu no governo militar brasileiro (1964) que dava total poder ao Presidente do Brasil.

Neste momento, o preconceito, por parte dos expositores de outras raças, era enorme. A seguir o relato da Sra. Marina Vicari Lerario:

Eu me lembro muito bem de minha primeira participação em exposição oficial (Abril/1992), em cidade do interior do Estado de São Paulo. Levei 3 exemplares e a sócia criadora Flávia Schereder, do Estado do Rio de Janeiro trouxe um exemplar. Eu não tinha nenhuma experiência do que e como era uma exposição de beleza canina. Só sei que por onde passava com meus cães, eu sempre ouvia: “agora vira-lata pode participar de exposições?”. Em momento algum retrucamos de volta, porque não se combate deselegância com deselegância. “Algum dia esta raça vai ser prestigiada” pensei. E lá fomos nós para a disputa de raça. Dos quatro inscritos apenas um era filhote, 4 meses e 1 dia! A idade mínima permitida. Esse filhote ganhou a raça. E lá fui eu para a disputa de melhor do grupo III (FCI – Grupo Terrier). E esse filhote ganhou o grupo!! “Então vira-lata ganha grupo?” pensei. Naquele momento eu soube que a melhor resposta seria essa: a vitória da raça sobre outras raças. A raça mostrando-se por si.”

E não por mero acaso esse filhote era o “Pinguim do Taboão”, o grande campeão, já mencionado na descrição da raça e que virou Selo dos Correios em 1998!

Foi assim, com todo esse respeito à nossa raça nacional que o Clube foi fundado, com esta finalidade de agrupar sócios e canis registrados, com o intuito de evitar mestiçagem e de ter um controle genealógico e a fiscalização da procriação, gestação, nascimento e identificação dos animais da raça, assumindo a responsabilidade pela emissão e expedição de certificados de pedigree. Foi assim também que os núcleos trabalharam.

No momento em que foi feito o convênio CFP/CBKC, todos os pedigrees emitidos pelo CFP passaram a ter validade, passaram a ser reconhecidos em todo o Brasil. Passaram a ter caráter oficial. O mesmo acontecendo com os juízes, sócios e canis do Clube do Fox Paulistinha.

Os Kenneis Clubes de todo o Brasil que recebiam um registro de ninhada da raça Terrier Brasileiro, encaminhavam o Mapa de Registro de Ninhada (MRN) ao Clube do Fox Paulistinha, que registrava oficialmente aquela ninhada em seu Stud Book e logo após encaminhava cópia à CBKC. Todas as transferências de propriedade de animal passavam pelo CFP.

Em setembro de 2000 contávamos com 452 sócios e 7027 cães registrados. Registrados apenas pelo CFP! Pois existem mais TBs registrados pelos Kenneis Clubes brasileiros, que agora adotam para com a raça a disciplina e seriedade peculiar ao CFP. E também registros fora do Brasil, fruto dos exemplares exportados.

Alguns núcleos regionais destacaram-se mais do que outros, sempre impulsionados pelo CFP. A todos os núcleos foi dada a chance de se expandirem e serem auto-suficientes; o CFP passou a lista dos sócios daqueles Estados brasileiros aonde existiam núcleos aos presidentes desses núcleos para fomentar mais a criação da raça naqueles Estados. Sempre soubemos que um dia esses núcleos seriam autônomos, e sempre foi essa nossa intenção.

O que o Clube do Fox Paulistinha fez por uma quinzena de anos ao registrar as ninhadas em caráter Nacional foi sem dúvida um feito e tanto. E histórico. Porque sem o nosso Stud Book, a FCI não teria reconhecido a raça.

Aqui vale ressaltar um especial membro da diretoria da CBKC, Sra. Leyla Rebello. O Clube fez o trabalho genético e seletivo com a raça e ela nos defendeu perante duas comissões da FCI, a de Standard e a Científica, que se reuniu durante o Campeonato Mundial de Cães em Berna (1994), para estudar o requerimento do Brasil para reconhecimento da raça Terrier Brasileiro. Por 4 votos a favor (Italia, Porto Rico, México e Holanda) e 1 contra (Suíça) nosso pedido foi aceito. Juntos, o Clube do Fox Paulistinha, seus núcleos e a Sra. Leyla, reunimos as 8 diferentes linhas de sangue exigidas pela FCI e apresentamos todos os laudos exigidos para reconhecimento de uma raça.

Para a avaliação do plantel, uma comissão da FCI esteve por duas vezes no Brasil. Na primeira ocasião, em agosto de 1992, organizada à revelia do CFP, por um Kennel Clube, “preparou” uma exposição a essa comissão da FCI e que nos informou:
a comissão da FCI não gostou dos exemplares, pois o plantel estava desuniforme, e aconselhamos a melhorar a qualidade para obter o reconhecimento da raça”.

Com aqueles cães que eram registrados pelos kenneis clubes, o trabalho demoraria mais uns 10 anos! E já estava pronto e muito bem organizado pelo CFP!

A segunda avaliação do plantel foi realizada durante a exposição das Américas e Caribe, na cidade do Rio de Janeiro, em Outubro de 1993. Desta feita, o organizador do evento para a comissão da FCI foi o Clube do Fox Paulistinha. E os cães apresentados eram todos de nível excelente. Os Srs. da comissão de Standard da FCI representantes da Itália e Porto Rico foram os juízes desta segunda avaliação. E foram eles, sem dúvida, Sr. Mario Perricone e Sr. Rafael de Santiago, que reportaram o que viram aos membros da comissão e pudemos finalmente ser reconhecidos como RAÇA OFICIAL da FCI, arquivada sob No. 341.

Assim meu sonho de participar de uma Exposição Mundial Canina (World Dog Show) se realizaria. A partir de 1996 a raça já podia concorrer nesses eventos. Não posso esquecer a emoção de desfilar pelos verdes tapetes de uma Mundial, a primeira com nosso brasileirinho, em Viena, em 1996. Mais uma vez o TB Pinguim do Taboão foi o carro chefe da raça.” (Marina Vicari Lerario)

A conclusão é que a raça Terrier Brasileiro, como hoje também é conhecida, teve como patrono principal e por muitos anos, único, o Clube do Fox Paulistinha, que zelou pelo aprimoramento da raça, buscando na formação do plantel a homogeneidade que hoje encontramos. Não podemos falar da raça sem mencionar esse trabalho, que preservou esta herança brasileira, este pequeno grande terrier, o Fox Paulistinha, e continua com este ideal ainda hoje e para sempre.

O CFP promoveu concursos de redação, concurso fotocinológico, participou de eventos e ainda organizamos exposições especializadas da raça. Criamos, também, nosso “Código de Ética do Criador”. O primeiro clube de cães no Brasil a adotar semelhante documento, cujo teor encontra-se disponível neste site.